reportagem

Tudo vale por uma boa história?

Amigos,

Hoje proponho uma reflexão sobre uma situação que pode acontecer com qualquer jornalista. Uma situação que coloca em jogo a ética, a reputação e a moral do profissional.

Vamos a uma hipótese:

Uma pessoa (neste caso a fonte) entra em contato com você para contar uma história. Ela confessa que está envolvida em um ato ilícito (muito ou pouco grave, porém ilegal) e pede que você escreva sobre isso. Mas há uma condição: enquanto você, como jornalista, realiza a documentação do fato com investigação, entrevista ou fotos, nada pode ser publicado até que a fonte permita.

Opção 1: você aceita a proposta

Opção 3: você não aceita a proposta e fica na sua

Opção 4: você não aceita a proposta e denuncia a fonte

Um agravante: durante esse processo, você acompanharia o informante durante o ato ilícito que ele comete e, como concordou em manter sigilo, de certa forma se transformaria em um cúmplice por omissão.

O que você faria?

Talvez buscar um exemplo nos jornalistas mais experientes seria uma boa ideia. Mas e se isso tivesse acontecido de verdade com um profissional, que escolheu ficar calado durante anos pelo bem de uma boa história?

No dia 11 deste mês, a versão eletrônica da revista The New Yorker publicou uma matéria sobre a história de um homem chamado Gerald Foos que comprou um motel em Denver, Colorado nos anos 60 e elaborou um sistema secreto para espiar hóspedes, principalmente suas atividades sexuais. Por décadas, ele ficou à espreita, olhando, analisando e escrevendo cada movimento e atividade de quem estava nos quartos.

A matéria leva a assinatura de Gay Talese.

Sim! O pai do novo jornalismo.

motel

O Manor House Motel, cujo proprietário manteve, secretamente, a prática de voyeurismo durante 25 anos (Foto: Reprodução Amazon)

Talese conta que recebeu uma carta em que Foos explicava ter um material interessante, que poderia contribuir ao trabalho que vinha desenvolvendo no livro A Mulher do Próximo, um retrato da sexualidade norte-americana nas décadas de 60 e 70.

Nos dias que se seguiram, ele afirma ter refletido muito sobre a história do homem que violava, em segredo, a privacidade sexual de desconhecidos. Por fim, ele aceitou a proposta justificando que ele próprio havia utilizado métodos semelhantes em seus trabalhos. A maioria dos jornalistas são voyers incansáveis que vêem as verrugas no mundo, as imperfeições de pessoas e lugares”, explica na matéria.

Foos manteve a prática até vender o motel em 1995 e só em 2013 o jornalista recebeu a autorização para divulgar a história, 33 anos depois de conhecer o fato.

Mais: vindo de Gay Talese, não é uma surpresa o fato de que um livro sobre o caso será lançado, ainda neste ano.

E então, o jornalismo é um vale-tudo?

Mudando de assunto. O aluno Thiago Carrico, do matutino, recomendou um site para os cinéfilos. No MemoCine estão disponibilizadas algumas películas do século passado, além de documentários, curtas e séries. Nem só na Netflix podemos nos perder com tantos títulos 🙂

 

Jornalismo para quem tem fôlego

Amigos,

Por mais um semestre o blog é reativado com o início dos estudos de jornalismo literário. Esperamos seguir como um espaço para enriquecer e assimilar os conteúdos produzidos pela imprensa (tradicional e independente) com o que é visto em sala de aula.

Começamos com uma dica de site que vale a pena visitar: a plataforma BRIO.
“Histórias reais e jornalismo de fôlego para quem gosta de ter assunto” é a frase que simplifica o conteúdo desse projeto multimídia criado em 2015.

No resto da descrição, percebemos que a equipe se propõe a seguir as recomendações de Tom Wolfe (sobre o fazer jornalismo literário) quando afirmam produzir grandes reportagens com ângulos nunca antes abordados, criando assim narrativas de alto impacto pois abandonam a superficialidade e mergulham nos fatos, nos personagens e nos conflitos de uma boa história.

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Livro-reportagem

Reportagem é sempre reportagem… Parece um comentário tão óbvio, mas ainda me espantam algumas definições mirabolantes sobre o assunto.

Reportagem prevê uma boa pesquisa já para a pauta, um tema que permita aprofundamento do assunto, traz uma abordagem por vários pontos de vista, requer entrevistas de muitas, muitas, muitas pessoas, faz uma análise crítica sobre o assunto, dentre tantas outras características que poderíamos enumerar aqui.

Para que a reportagem migre de plataforma do jornal ou revista para o livro, é porque requer mais espaço. O que deve ou não ter mais espaço é uma questão a refletir caso a caso mesmo. Vamos analisar alguns livros, que são reportagens? Por que eles se tornaram livros? E qual a relação entre eles e a literatura?