Amigos,
Recentemente falamos aqui no blog sobre a Jornada do Herói, estrutura narrativa que há tempos é um padrão mundial nos roteiros de filmes. Tal processo de construção de um personagem e sua história, também é muito explorado pela literatura. Mas isso não significa que o jornalismo, por estar no âmbito da não ficção, não possa retratar uma jornada de herói. Para isso acontecer, é necessário uma boa história com um bom personagem, ambos reais.
Pode ser redundante lembrar que o jornalismo literário vive de boas histórias e, por outro lado, pode ser bem difícil definir o que é uma boa história. Mas é neste momento que o jornalista pode trabalhar a capacidade de investigação para chegar a realidades escondidas, porém surpreendentes.
Em 2010, o Brasil recebeu 560 solicitações de refúgio. Já em 2014, o número passou para 12 mil pedidos. Os principais grupos de refugiados que chegam ao país, de acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), vêm da Síria, Colômbia, Angola e República Democrática do Congo. O movimento imigratório mundial novamente chega a números assustadores com o agravamento de guerras internas e perseguição de governos autoritários, tantos nesses países citados, quanto em outros.
Aqueles que precisam chegar ao ponto de solicitar refúgio, abandonaram seus países de origem porque corriam risco de vida no local. Da mesma forma com que essas pessoas carregam uma bagagem muito pesada de medo, angústia e tristeza, elas chegam ao destino com a esperança de dias melhores. Nem sempre só a partida e a chegada são cheias de dificuldades, mas também a travessia (muitas vezes digna de uma jornada de herói real e nem tanto gloriosa como mostram os filmes).
Imaginemos então, que por trás daqueles 12 mil pedidos de refúgio há pessoas com boas histórias e que por isso, merecem uma narrativa de fôlego. É o caso do colombiano Robert Arturo Cardenas, cuja viagem, desde Bogotá até São Paulo, foi narrada em quatro partes pela jornalista Adriana Negreiros, para o BRIO. A história é longa, mas conseguimos perceber as partes que fazem dela uma legítima jornada de herói. Vale a pena tirar um (bom) tempo para ler os capítulos 1, 2, 3 e 4.
Mas é preciso chamar atenção para o fato de que a figura de um herói (seja na ficção ou não) é na maioria dos casos masculina. Não contestar isso é concordar com uma regra silenciosa de que um gênero merece mais protagonismo que outro. Independente da origem, raça e gênero, muitas pessoas possuem uma jornada de herói que pode ser muito bem aproveitada. E foi isso que o projeto Vidas Refugiadas fez ao expor histórias de algumas mulheres refugiadas no Brasil. No site também é possível conhecer um pouco mais sobre a situação desses estrangeiros no país.
Espero que essas duas dicas ajudem a perceber que o jornalismo pode aproveitar muito de características da literatura e da ficção.
Boa leitura 🙂
DETALHE: Nos filmes da Disney podemos perceber facilmente como a jornada do herói se encaixa no roteiro. Segue um exemplo com o filme Carros: